Uma das perguntas mais frequentes dos pais a respeito do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) está relacionada à idade: a partir de quantos anos os primeiros sintomas podem ser observados?
É sempre importante lembrar que o TEA apresenta trajetórias diferentes em cada uma das crianças. Isso significa que, para algumas crianças, os sinais podem ser observados desde o nascimento enquanto para outras, as manifestações podem ter início após o primeiro ano de vida.
Saber identificar os sinais precoces de TEA se relaciona diretamente com a possibilidade de oferecer à criança uma intervenção também precoce, mesmo que o diagnóstico ainda não tenha sido confirmado.
Mas, porque a intervenção precoce nos casos de TEA é tão importante?
Crianças com TEA são menos sensíveis a estímulos sociais e à interação social, podem estar excessivamente fixadas em objetos e envolver-se em jogos repetitivos com eles e cada um desses comportamentos mostram que elas respondem de forma diferente ao ambiente, desde os primeiros anos de vida.
Cada uma dessas experiências diárias, irá moldar o cérebro a partir do desenvolvimento de redes neurais. Contudo, em crianças com TEA essas redes tendem a ser construídas a partir dos acontecimentos relacionados à objetos e não aos eventos sociais.
Vale sempre lembrar que a infância é considerada um período de grande plasticidade para o desenvolvimento cerebral e potencial de aprendizagem. Ou seja, crianças muito pequenas tem grande potencial para aprender novas habilidades e isso precisa ser explorado! Mas de que forma?
A partir das experiências de intervenção que contribuam para alterações no cérebro e no comportamento. Nesse sentido, com a intervenção precoce podemos ajudar a criança com TEA a construir um cérebro mais social e comunicativo, o que vai melhorar muito sua evolução e prognóstico!
Ah e não vamos esquecer: a intervenção precoce envolve uma equipe multiprofissional, especializada e adequada à cada criança!
Quais são os sinais de alerta para diagnóstico precoce do autismo?
Toda essa conversa sobre a importância da intervenção precoce só nos faz perceber o quanto devemos conversar a respeito das primeiras manifestações do TEA em crianças. Confira quais são os sinais de alerta:
Visual
Crianças com TEA, desde muito cedo, podem apresentar dificuldade em estabelecer e manter o contato visual. As mães costumam notar essa dificuldade no momento da amamentação, por exemplo. Outros pais relatam que, muitas vezes, ainda que a criança olhe em direção a eles, parece ser um olhar vazio e pouco expressivo.
Motora
Podem ser observados atrasos no desenvolvimento como, demorar para sentar e andar variando muito de uma criança para outra. Outros aspectos observados com certa frequência é a dificuldade de controle de esfíncteres, andar nas pontas dos pés, cair e esbarrar facilmente.
Além disso, são observados movimentos repetitivos ou estereotipados como chacoalhar as mãos, balançar-se para frente e para trás, correr de um lado para outro, pular ou girar sem motivos aparentes. Os movimentos podem se intensificar em momentos de felicidade, tristeza ou ansiedade.
Sensorial
Crianças com TEA podem demonstrar mais sensibilidade a sons e luminosidade intensas, além disso, algumas texturas ou costuras nas roupas podem incomodar tanto a ponto de serem aversivas. No momento da introdução da alimentação complementar, geralmente em torno dos 6 meses, a criança pode apresentar sinais de recusa e seletividade alimentar o que também se relaciona ao aspecto sensorial.
Comunicação social
A comunicação social envolve, além da comunicação e habilidades sociais para interagir com outras pessoas. Crianças com TEA podem falhar nisso desde o nascimento. Geralmente essas crianças são descritas como bebês quietos, que não vocalizam ou balbuciam com frequência, pouco interativos, preferindo usar gestos para indicar o que deseja e, muitas vezes, não atendem quando chamados pelo nome.
É comum que essas crianças apresentem atrasos no desenvolvimento de fala e linguagem, como o atraso das primeiras palavras. Essas dificuldades tendem a ser persistentes e precisam ser trabalhadas ao longo do tempo.
Desenvolvimento cognitivo
Crianças com TEA tem muita dificuldade para imitar, o que já é esperado por volta dos 6 a 8 meses. A imitação é porta de entrada para o aprendizado de diversas habilidades sendo esse um sinal de alerta muito importante.
Além disso, elas têm muita dificuldade de compartilhar a atenção com outros adultos e crianças. Quando um pouco maiores, tendem a brincar sozinhas e de forma pouco funcional. Suas brincadeiras costumam ser solitárias e com partes de brinquedos, como a roda de um carrinho ou algum botão.
Outros sinais podem estar presentes e cabe aos profissionais de saúde que acompanham a criança, saber como identificar e fazer os encaminhamentos necessários. Para isso, temos disponíveis alguns instrumentos que nos ajudam nessa identificação. Vamos falar sobre uma delas, o M-Chat.
O que é a escala M-Chat e para que serve?
O M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers) é uma escala de rastreamento que foi inicialmente pensada para ser utilizada em todas as crianças durante visitas pediátricas, com objetivo de identificar traços de autismo em idade precoce.
Pode ser utilizada por qualquer profissional que acompanhe o desenvolvimento de crianças e é muito simples de aplicar. É composto por um questionário de 23 perguntas com respostas de sim/não a respeito de uma série de características que podem ser observadas em crianças com TEA.
Esse instrumento pode ser aplicado às crianças entre 16 e 30 meses e para responder aos itens do M-CHAT o profissional conta com o relato e observação dos pais com relação ao comportamento da criança, preenchida em alguns minutos, tem baixo custo e não causa nenhum desconforto.
Mais recentemente o M-CHAT foi revisado e recebeu uma segunda versão, o M-CHAT-R. Nessa versão, existe ainda uma entrevista de segmento cujo objetivo é aumentar a sensibilidade do instrumento na identificação do número possível de casos de TEA.
Usar ferramentas como essa podem ajudar muito no processo de diagnóstico de crianças com suspeita de TEA contribuindo para o início da intervenção precoce.
