Sinais de alerta para intervenção precoce no autismo
5 de fevereiro de 2024

Uma das perguntas mais frequentes dos pais a respeito do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) está relacionada à idade: a partir de quantos anos os primeiros sintomas podem ser observados?


É sempre importante lembrar que o TEA apresenta trajetórias diferentes em cada uma das crianças. Isso significa que, para algumas crianças, os sinais podem ser observados desde o nascimento enquanto para outras, as manifestações podem ter início após o primeiro ano de vida.


Saber identificar os sinais precoces de TEA se relaciona diretamente com a possibilidade de oferecer à criança uma intervenção também precoce, mesmo que o diagnóstico ainda não tenha sido confirmado.


Mas, porque a intervenção precoce nos casos de TEA é tão importante?

Crianças com TEA são menos sensíveis a estímulos sociais e à interação social, podem estar excessivamente fixadas em objetos e envolver-se em jogos repetitivos com eles e cada um desses comportamentos mostram que elas respondem de forma diferente ao ambiente, desde os primeiros anos de vida.


Cada uma dessas experiências diárias, irá moldar o cérebro a partir do desenvolvimento de redes neurais. Contudo, em crianças com TEA essas redes tendem a ser construídas a partir dos acontecimentos relacionados à objetos e não aos eventos sociais.


Vale sempre lembrar que a infância é considerada um período de grande plasticidade para o desenvolvimento cerebral e potencial de aprendizagem. Ou seja, crianças muito pequenas tem grande potencial para aprender novas habilidades e isso precisa ser explorado! Mas de que forma?


A partir das experiências de intervenção que contribuam para alterações no cérebro e no comportamento. Nesse sentido, com a intervenção precoce podemos ajudar a criança com TEA a construir um cérebro mais social e comunicativo, o que vai melhorar muito sua evolução e prognóstico!


Ah e não vamos esquecer: a intervenção precoce envolve uma equipe multiprofissional, especializada e adequada à cada criança!

Quais são os sinais de alerta para diagnóstico precoce do autismo?


Toda essa conversa sobre a importância da intervenção precoce só nos faz perceber o quanto devemos conversar a respeito das primeiras manifestações do TEA em crianças. Confira quais são os sinais de alerta:


Visual

Crianças com TEA, desde muito cedo, podem apresentar dificuldade em estabelecer e manter o contato visual. As mães costumam notar essa dificuldade no momento da amamentação, por exemplo. Outros pais relatam que, muitas vezes, ainda que a criança olhe em direção a eles, parece ser um olhar vazio e pouco expressivo.


Motora

Podem ser observados atrasos no desenvolvimento como, demorar para sentar e andar variando muito de uma criança para outra. Outros aspectos observados com certa frequência é a dificuldade de controle de esfíncteres, andar nas pontas dos pés, cair e esbarrar facilmente.


Além disso, são observados movimentos repetitivos ou estereotipados como chacoalhar as mãos, balançar-se para frente e para trás, correr de um lado para outro, pular ou girar sem motivos aparentes. Os movimentos podem se intensificar em momentos de felicidade, tristeza ou ansiedade.


Sensorial

Crianças com TEA podem demonstrar mais sensibilidade a sons e luminosidade intensas, além disso, algumas texturas ou costuras nas roupas podem incomodar tanto a ponto de serem aversivas. No momento da introdução da alimentação complementar, geralmente em torno dos 6 meses, a criança pode apresentar sinais de recusa e seletividade alimentar o que também se relaciona ao aspecto sensorial.


Comunicação social

A comunicação social envolve, além da comunicação e habilidades sociais para interagir com outras pessoas. Crianças com TEA podem falhar nisso desde o nascimento. Geralmente essas crianças são descritas como bebês quietos, que não vocalizam ou balbuciam com frequência, pouco interativos, preferindo usar gestos para indicar o que deseja e, muitas vezes, não atendem quando chamados pelo nome. 


É comum que essas crianças apresentem atrasos no desenvolvimento de fala e linguagem, como o atraso das primeiras palavras. Essas dificuldades tendem a ser persistentes e precisam ser trabalhadas ao longo do tempo.


Desenvolvimento cognitivo

Crianças com TEA tem muita dificuldade para imitar, o que já é esperado por volta dos 6 a 8 meses. A imitação é porta de entrada para o aprendizado de diversas habilidades sendo esse um sinal de alerta muito importante.


Além disso, elas têm muita dificuldade de compartilhar a atenção com outros adultos e crianças. Quando um pouco maiores, tendem a brincar sozinhas e de forma pouco funcional. Suas brincadeiras costumam ser solitárias e com partes de brinquedos, como a roda de um carrinho ou algum botão.


Outros sinais podem estar presentes e cabe aos profissionais de saúde que acompanham a criança, saber como identificar e fazer os encaminhamentos necessários. Para isso, temos disponíveis alguns instrumentos que nos ajudam nessa identificação. Vamos falar sobre uma delas, o M-Chat. 


O que é a escala M-Chat e para que serve?

O M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers) é uma escala de rastreamento que foi inicialmente pensada para ser utilizada em todas as crianças durante visitas pediátricas, com objetivo de identificar traços de autismo em idade precoce.


Pode ser utilizada por qualquer profissional que acompanhe o desenvolvimento de crianças e é muito simples de aplicar. É composto por um questionário de 23 perguntas com respostas de sim/não a respeito de uma série de características que podem ser observadas em crianças com TEA.


Esse instrumento pode ser aplicado às crianças entre 16 e 30 meses e para responder aos itens do M-CHAT o profissional conta com o relato e observação dos pais com relação ao comportamento da criança, preenchida em alguns minutos, tem baixo custo e não causa nenhum desconforto.


Mais recentemente o M-CHAT foi revisado e recebeu uma segunda versão, o M-CHAT-R. Nessa versão, existe ainda uma entrevista de segmento cujo objetivo é aumentar a sensibilidade do instrumento na identificação do número possível de casos de TEA.

Usar ferramentas como essa podem ajudar muito no processo de diagnóstico de crianças com suspeita de TEA contribuindo para o início da intervenção precoce.

fonoaudiologa-e-criança
12 de abril de 2024
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é considerado uma síndrome comportamental que afeta o desempenho social, o comportamento e a comunicação. Embora ainda não se saiba exatamente qual é a sua origem ou causa, estudos sugerem a presença de fatores genéticos e neurobiológicos que podem estar associados a essa condição. O TEA tem maior incidência no sexo masculino em uma proporção de 4,2 nascimentos para cada um do sexo feminino, sendo a prevalência total estimada em um em cada 88 nascimentos, colocando o TEA entre os transtornos do desenvolvimento mais comuns. Ao longo do tempo, a classificação e critérios diagnósticos para o TEA são modificados conforme avançamos na compreensão acerca desse tema. Na mais recente atualização, realizada em 2013, disponível no DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, sigla em inglês para Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), o TEA passou a ser descrito como espectros de características que variam em grau de manifestação, sendo considerado então um quadro que pode variar muito de indivíduo para indivíduo. Independentemente do grau de comprometimento, esse manual determina uma díade diagnóstica, ou seja, aspectos que necessariamente precisam estar alterados em quadros de TEA e que corresponde ao prejuízo nas habilidades de interação social e comunicação e à presença de comportamentos, interesses e atividades estereotipados. Podemos perceber que a comunicação e a linguagem da pessoa com TEA são aspectos que merecem atenção. Seja com maior ou menor comprometimento, prejuízos na linguagem e comunicação são parte desse quadro. Considerando a linguagem como tudo aquilo que nos torna seres capazes interagir, expressar desejos, sentimentos e pensamentos, qualquer alteração que prejudique essas habilidades terão grande impacto no desenvolvimento e qualidade de vida de qualquer pessoa. Neste texto, vamos abordar as principais características relacionadas à linguagem no TEA. Confira! A linguagem e seu desenvolvimento A linguagem é uma habilidade exclusiva da espécie humana, que permite a cada indivíduo representar e expressar suas experiências de vida, pensamentos, desejos e dúvidas, além de ser uma ferramenta indispensável no processo de aquisição, produção e transmissão do conhecimento. A linguagem vai além da fala, estando presente nos: gestos; comportamentos; expressões faciais; forma como interagimos com as outras pessoas. Essa habilidade é desenvolvida e aprimorada ao longo da vida, mas, principalmente nas etapas iniciais do desenvolvimento nas quais as crianças têm ampla capacidade de adquirir e aprender novas habilidades. Esse processo acontece naturalmente durante a interação das crianças com seus pares, mas estão condicionadas à algumas habilidades da própria criança. No caso de crianças com TEA, o desenvolvimento das habilidades de linguagem e comunicação é prejudicado e pode estar alterado de formas variáveis. Na próxima sessão, vamos entender quais características podem ser observadas nesse contexto. Acompanhe! A linguagem no TEA A linguagem em pessoas com TEA pode estar alterada de diferentes formas, variando no grau de comprometimento, e podem ser observadas em todos os aspectos da comunicação. Nesse espectro, vamos observar tanto crianças que não se comunicam por meio da fala, como aquelas que apesar de conseguir elaborar um discurso, tem dificuldade em lidar com regras sociais tornando a comunicação pouco funcional. Crianças com TEA podem apresentar dificuldade no desenvolvimento de fala e linguagem, por vezes demoram para começar a falar e, quando isso acontece, a linguagem pode ser utilizada de forma pouco funcional, apresentando ausência ou redução da fala espontânea, mesmo em situações de interação. Além disso, podem ser observadas: uso inadequados de pronomes possibilidade da ocorrência de ecolalias . uso de gestos e expressões faciais é prejudicado; alteração no ritmo da fala, o que pode torná-la monótona ou robótica; dificuldades na elaboração de frases e no emprego de estruturas gramaticais complexas.  Outras habilidades, como a de atenção, podem estar alteradas e se refletem na comunicação, pois prejudicam a interação da pessoa com TEA com os demais. Aliás, as dificuldades sociais representam uma barreira importante à comunicação. Pessoas com TEA tendem a ter dificuldade em estabelecer relações fundamentais ao diálogo com as outras pessoas, como: iniciar e manter uma conversa; trocar turnos durante a comunicação; se atém ao significado das palavras de forma rígida; adequar sua fala ao contexto e ao interesse do seu interlocutor; dificuldade de compreender conceitos abstratos, ironias e figuras de linguagem. Portanto, existe a dificuldade de simbolização, que pode, inclusive, ser observada na brincadeira da criança com TEA que tende a ser menos estruturada. Por se tratar de uma alteração comportamental, o diagnóstico nos casos de TEA é realizado com base na observação dessas e outras características descritas no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) . Portanto, não existem exames, como os de imagem, capazes de auxiliar nesse diagnóstico até o momento. Quanto antes for feito o diagnóstico, ou pelo menos, for identificado o risco para autismo, melhor! A identificação precoce possibilita a intervenção precoce e ela fará toda a diferença na evolução dessas crianças. Importância da intervenção precoce nos casos de TEA O nosso cérebro é formado por uma rede de circuitos responsável por conduzir informações e permitir a realização de qualquer tarefa ou habilidade. Essa rede formada a partir da conexão dos neurônios é responsável pelo desenvolvimento e uso da linguagem. Com o passar do tempo, o cérebro reconhece quais dessas conexões são utilizadas com maior frequência e oferece uma espécie de reforço. Por outro lado, aquelas conexões que não estão sendo usadas são desativadas, a esse mecanismo de exclusão damos o nome de poda neural. Embora o “corte” aconteça diversas vezes ao longo da vida, ocorre de forma intensa até os 3 anos, que faz com que esse período inicial na vida de qualquer criança seja fundamental no estabelecimento de conexões que possibilitarão o desenvolvimento de habilidades, como a linguagem. Nesse sentido, fica fácil compreender porque a estimulação precoce é importante nos casos de TEA! Não significa que crianças maiores não vão apresentar evolução significativa, mas iniciar o acompanhamento adequado tão logo se identifique uma suspeita ou risco para o TEA pode tornar a evolução mais rápida e eficiente. Importância da tríade família, escola e profissionais da reabilitação no sucesso da intervenção em linguagem no TEA O trabalho de intervenção voltado às pessoas com TEA envolve a participação de uma série de profissionais que favorecem o desenvolvimento de ampla variedade de habilidades: fonoaudiólogo: se dedicará à intervenção voltada ao desenvolvimento de linguagem e habilidades comunicativas; psicólogo: é o profissional responsável por trabalhar o comportamento da criança, sendo fundamental no manejo com os pais; terapeuta ocupacional: além de trabalhar aspectos sensoriais que podem estar alterados, favorecerá o desenvolvimento de habilidades de vida diária, permitindo à pessoa com TEA maior nível de independência. Além dos citados, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e assistentes sociais podem estar envolvidos nesse processo de intervenção. Contudo, vale a pensa lembrar que mesmo nos casos em que a criança realiza a intervenção de forma intensiva, durante muitas horas, o que nem sempre é uma realidade no nosso país, ela passará o maior tempo do seu dia em casa, com os pais e na escola. Por essa razão, a intervenção em casos de TEA só atingirá a máxima eficiência quando os profissionais na reabilitação da pessoa com TEA trabalharem em conjunto com professores, pais e cuidadores. Dessa forma, tudo o que for realizado no consultório pode ser usado nos demais contextos em que a criança está inserida. E, para você que deseja conhecer mais sobre esse assunto, a TK preparou um curso teórico e prático completo sobre o tema: Como Intervir nas Ecolalias e Estereotipias Verbais. Esse curso apresenta versões para pais , educadores e fonoaudiólogos justamente visando fortalecer a rede de cuidado no TEA! Referências: AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo. Brasília, 2013. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_autismo.pdf