Seletividade alimentar infantil: saiba qual profissional procurar e como diagnosticar!
5 de fevereiro de 2024

Uma alimentação saudável combina alimentos variados, de grupos alimentares diferentes e de forma equilibrada. Ela deve suprir as necessidades fisiológicas do organismo, sendo uma fonte de energia essencial ao desenvolvimento e crescimento adequado, além da prevenção de doenças e outros agravos à saúde.


Os hábitos alimentares são construídos desde cedo, assim que o bebê começa a se alimentar após o nascimento. Mas um momento fundamental desse processo corresponde à introdução da alimentação complementar, período em que a criança começa a ser exposta a sabores, texturas e temperaturas diferentes.


Para a criança, iniciar a alimentação complementar corresponde a um mundo novo. Logo, deve ser explorado com cuidado, de modo que essa seja uma experiência prazerosa e confortável!


Mas imagine você, adulto, chegando em um lugar ou país diferente, com alimentos desconhecidos, sabores e texturas novas, é de se esperar que, pelo menos no início, você tenha alguma resistência ou dificuldade em se adaptar, não é mesmo?


Com a criança não é diferente, todas elas passam por um período de adaptação em que um mesmo alimento deve ser oferecido diversas vezes, de formas variadas para que ela tenha a oportunidade de experimentar e definir suas preferências.


Porém, nem sempre se trata apenas de uma adaptação. Muitas crianças podem apresentar dificuldades maiores e persistentes quando o assunto é alimentação. Isso é o que chamamos seletividade alimentar infantil, ou recusa alimentar. Você já ouviu falar?


Sabe aquela história a respeito da criança que só aceita alimentos pastosos ou apenas comidas brancas e amarelas? Esses relatos podem estar relacionados a seletividade ou recusa alimentar, e não é só na infância que elas aparecem, viu? Esse tipo de restrição pode estar presente até a vida adulta se não for tratada adequadamente.


Afinal, o que é seletividade alimentar infantil?

A seletividade alimentar infantil (SA) é caracterizada pelo consumo limitado de alimentos e extrema resistência para experimentar novos sabores. Esse tipo de comportamento resulta em problemas nutricionais, mas pode limitar qualquer atividade social da criança relacionada à alimentação.


Crianças com seletividade alimentar geralmente só aceitam alimentos conhecidos, podendo restringir seu consumo a alimentos de uma marca específica, determinado tamanho, cor, textura e formato.


É comum apresentarem comportamentos de fuga no momento da alimentação, como choro e birra, que persistem além do que é esperado em crianças sem esse tipo de restrição, além de:

  • enjoo;
  • vômito;
  • outras manifestações de recusa que tornam a alimentação um momento pouco prazeroso.


Agora vem um ponto que merece atenção: a seletividade alimentar não passa ou se cura sozinha!


Crianças com seletividade alimentar precisam de tratamento especializado de modo a superar essas dificuldades e ter uma alimentação variada e equilibrada. Então, diante de qualquer dificuldade para se alimentar, buscar uma avaliação de profissionais qualificados é a melhor opção!


Mas qual profissional pode ajudar nesses quadros?

Tudo depende da criança e dimensão das dificuldades apresentadas. O tratamento deve ser individualizado e adaptado a cada caso.

Por essa razão, a equipe é comumente composta por:

  • pediatras;
  • nutricionistas: trabalha uma dieta equilibrada, respeitando as particularidades da criança e, muitas vezes, complementando aquilo que for necessário para um crescimento saudável;
  • fonoaudiólogos: trabalha com as funções orais de modo a entender as preferências da criança, despertar o interesse por outros sabores e organizar o contexto alimentar;
  • terapeutas ocupacionais: fundamental para cuidar de questões sensoriais associadas à seletividade alimentar.


Comportamento dos pais e familiares perante a recusa da criança

O momento da refeição envolve, além das habilidades da criança para mastigar e engolir, a dinâmica familiar:

  • escolha dos alimentos;
  • forma de preparo e oferta;
  • posicionamento da criança;
  • exemplo dado pelas pessoas próximas;
  • série de distrações que podem ser usadas nesse momento.


Por isso, o tratamento da seletividade alimentar envolve compreender todos os fatores envolvidos em cada caso. Por exemplo, pode ser fundamental que a família faça as refeições junto à criança para auxiliar no processo de alimentação.



Fazer com que os pais compreendam e saibam como se comportar diante da recusa, além de instrumentalizar os familiares, de modo a continuar em casa o trabalho iniciado no consultório, pode garantir o sucesso da intervenção.


Meios criativos de oferecer o alimento

Quando o assunto é levar a criança a aceitar novos alimentos, o profissional usará meios criativos para incentivá-la experimentar e tentar novos sabores. Por exemplo, por que não começar a se aproximar da cenoura no bolo? Assim teremos diversas possibilidades, sempre respeitando a criança.


Os resultados desse trabalho são surpreendentes, assim como as mudanças que eles provocam na criança e família.

Diante de qualquer dificuldade alimentar, procure um profissional especializado que possa diagnosticar e intervir. Quanto antes esse trabalho for iniciado, melhores serão os resultados!


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fonoaudiologa-e-criança
12 de abril de 2024
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é considerado uma síndrome comportamental que afeta o desempenho social, o comportamento e a comunicação. Embora ainda não se saiba exatamente qual é a sua origem ou causa, estudos sugerem a presença de fatores genéticos e neurobiológicos que podem estar associados a essa condição. O TEA tem maior incidência no sexo masculino em uma proporção de 4,2 nascimentos para cada um do sexo feminino, sendo a prevalência total estimada em um em cada 88 nascimentos, colocando o TEA entre os transtornos do desenvolvimento mais comuns. Ao longo do tempo, a classificação e critérios diagnósticos para o TEA são modificados conforme avançamos na compreensão acerca desse tema. Na mais recente atualização, realizada em 2013, disponível no DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, sigla em inglês para Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), o TEA passou a ser descrito como espectros de características que variam em grau de manifestação, sendo considerado então um quadro que pode variar muito de indivíduo para indivíduo. Independentemente do grau de comprometimento, esse manual determina uma díade diagnóstica, ou seja, aspectos que necessariamente precisam estar alterados em quadros de TEA e que corresponde ao prejuízo nas habilidades de interação social e comunicação e à presença de comportamentos, interesses e atividades estereotipados. Podemos perceber que a comunicação e a linguagem da pessoa com TEA são aspectos que merecem atenção. Seja com maior ou menor comprometimento, prejuízos na linguagem e comunicação são parte desse quadro. Considerando a linguagem como tudo aquilo que nos torna seres capazes interagir, expressar desejos, sentimentos e pensamentos, qualquer alteração que prejudique essas habilidades terão grande impacto no desenvolvimento e qualidade de vida de qualquer pessoa. Neste texto, vamos abordar as principais características relacionadas à linguagem no TEA. Confira! A linguagem e seu desenvolvimento A linguagem é uma habilidade exclusiva da espécie humana, que permite a cada indivíduo representar e expressar suas experiências de vida, pensamentos, desejos e dúvidas, além de ser uma ferramenta indispensável no processo de aquisição, produção e transmissão do conhecimento. A linguagem vai além da fala, estando presente nos: gestos; comportamentos; expressões faciais; forma como interagimos com as outras pessoas. Essa habilidade é desenvolvida e aprimorada ao longo da vida, mas, principalmente nas etapas iniciais do desenvolvimento nas quais as crianças têm ampla capacidade de adquirir e aprender novas habilidades. Esse processo acontece naturalmente durante a interação das crianças com seus pares, mas estão condicionadas à algumas habilidades da própria criança. No caso de crianças com TEA, o desenvolvimento das habilidades de linguagem e comunicação é prejudicado e pode estar alterado de formas variáveis. Na próxima sessão, vamos entender quais características podem ser observadas nesse contexto. Acompanhe! A linguagem no TEA A linguagem em pessoas com TEA pode estar alterada de diferentes formas, variando no grau de comprometimento, e podem ser observadas em todos os aspectos da comunicação. Nesse espectro, vamos observar tanto crianças que não se comunicam por meio da fala, como aquelas que apesar de conseguir elaborar um discurso, tem dificuldade em lidar com regras sociais tornando a comunicação pouco funcional. Crianças com TEA podem apresentar dificuldade no desenvolvimento de fala e linguagem, por vezes demoram para começar a falar e, quando isso acontece, a linguagem pode ser utilizada de forma pouco funcional, apresentando ausência ou redução da fala espontânea, mesmo em situações de interação. Além disso, podem ser observadas: uso inadequados de pronomes possibilidade da ocorrência de ecolalias . uso de gestos e expressões faciais é prejudicado; alteração no ritmo da fala, o que pode torná-la monótona ou robótica; dificuldades na elaboração de frases e no emprego de estruturas gramaticais complexas.  Outras habilidades, como a de atenção, podem estar alteradas e se refletem na comunicação, pois prejudicam a interação da pessoa com TEA com os demais. Aliás, as dificuldades sociais representam uma barreira importante à comunicação. Pessoas com TEA tendem a ter dificuldade em estabelecer relações fundamentais ao diálogo com as outras pessoas, como: iniciar e manter uma conversa; trocar turnos durante a comunicação; se atém ao significado das palavras de forma rígida; adequar sua fala ao contexto e ao interesse do seu interlocutor; dificuldade de compreender conceitos abstratos, ironias e figuras de linguagem. Portanto, existe a dificuldade de simbolização, que pode, inclusive, ser observada na brincadeira da criança com TEA que tende a ser menos estruturada. Por se tratar de uma alteração comportamental, o diagnóstico nos casos de TEA é realizado com base na observação dessas e outras características descritas no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) . Portanto, não existem exames, como os de imagem, capazes de auxiliar nesse diagnóstico até o momento. Quanto antes for feito o diagnóstico, ou pelo menos, for identificado o risco para autismo, melhor! A identificação precoce possibilita a intervenção precoce e ela fará toda a diferença na evolução dessas crianças. Importância da intervenção precoce nos casos de TEA O nosso cérebro é formado por uma rede de circuitos responsável por conduzir informações e permitir a realização de qualquer tarefa ou habilidade. Essa rede formada a partir da conexão dos neurônios é responsável pelo desenvolvimento e uso da linguagem. Com o passar do tempo, o cérebro reconhece quais dessas conexões são utilizadas com maior frequência e oferece uma espécie de reforço. Por outro lado, aquelas conexões que não estão sendo usadas são desativadas, a esse mecanismo de exclusão damos o nome de poda neural. Embora o “corte” aconteça diversas vezes ao longo da vida, ocorre de forma intensa até os 3 anos, que faz com que esse período inicial na vida de qualquer criança seja fundamental no estabelecimento de conexões que possibilitarão o desenvolvimento de habilidades, como a linguagem. Nesse sentido, fica fácil compreender porque a estimulação precoce é importante nos casos de TEA! Não significa que crianças maiores não vão apresentar evolução significativa, mas iniciar o acompanhamento adequado tão logo se identifique uma suspeita ou risco para o TEA pode tornar a evolução mais rápida e eficiente. Importância da tríade família, escola e profissionais da reabilitação no sucesso da intervenção em linguagem no TEA O trabalho de intervenção voltado às pessoas com TEA envolve a participação de uma série de profissionais que favorecem o desenvolvimento de ampla variedade de habilidades: fonoaudiólogo: se dedicará à intervenção voltada ao desenvolvimento de linguagem e habilidades comunicativas; psicólogo: é o profissional responsável por trabalhar o comportamento da criança, sendo fundamental no manejo com os pais; terapeuta ocupacional: além de trabalhar aspectos sensoriais que podem estar alterados, favorecerá o desenvolvimento de habilidades de vida diária, permitindo à pessoa com TEA maior nível de independência. Além dos citados, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e assistentes sociais podem estar envolvidos nesse processo de intervenção. Contudo, vale a pensa lembrar que mesmo nos casos em que a criança realiza a intervenção de forma intensiva, durante muitas horas, o que nem sempre é uma realidade no nosso país, ela passará o maior tempo do seu dia em casa, com os pais e na escola. Por essa razão, a intervenção em casos de TEA só atingirá a máxima eficiência quando os profissionais na reabilitação da pessoa com TEA trabalharem em conjunto com professores, pais e cuidadores. Dessa forma, tudo o que for realizado no consultório pode ser usado nos demais contextos em que a criança está inserida. E, para você que deseja conhecer mais sobre esse assunto, a TK preparou um curso teórico e prático completo sobre o tema: Como Intervir nas Ecolalias e Estereotipias Verbais. Esse curso apresenta versões para pais , educadores e fonoaudiólogos justamente visando fortalecer a rede de cuidado no TEA! Referências: AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo. Brasília, 2013. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_autismo.pdf