O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição caracterizada por dificuldades nos aspectos sociais da comunicação, além de comportamentos e interesses restritos e repetitivos.
Frequentemente, pessoas com TEA têm dificuldades com a linguagem. 25% a 30% das crianças com Transtorno do Espectro Autista não conseguem utilizar a linguagem verbal para se comunicar ou utilizam um número muito restrito de palavras.
Vale lembrar que a habilidade de se comunicar é fundamental, por possibilitar a interação entre as pessoas. E, dificuldades nesse processo podem gerar uma série de consequências negativas, como:
- alterações de comportamento;
- qualidade de vida ruim, com limitações de independência e autonomia;
- problemas no processo de alfabetização e demais habilidades acadêmicas.
Por essa razão, saber como incentivar as habilidades comunicativas em crianças com TEA é tão importante. E, quando pensamos nas crianças com autismo não-verbal, esse trabalho deve considerar algumas particularidades específicas.
Nesse texto, vamos conhecer um pouco mais a respeito desse universo do TEA não-verbal e algumas formas de estimular sua comunicação.
O que é autismo não-verbal?
É necessário ter em mente que, a maioria das crianças com TEA apresentam algum tipo de dificuldade para se comunicar e, consequentemente, no processo de aquisição da linguagem oral.
No entanto, a severidade dessas dificuldades variam de forma considerável. Muitas crianças com TEA podem adquirir a linguagem durante a época pré-escolar, em torno dos cinco anos de idade. Contudo, outras falham nesse processo e permanecem não-verbais ou minimamente verbais ao longo de suas vidas.
Podemos concluir, portanto, que uma criança não verbal é aquela que não utiliza a linguagem oral e a fala para se comunicar e uma criança minimamente verbal faz uso de um número restrito de palavras.
Mas atenção: a ausência da fala ou da linguagem oral não representa necessariamente a ausência de compreensão. É possível que muitas dessas crianças compreendam o que é falado por outras pessoas — mesmo com algumas dificuldades — mas que não sejam capazes de se expressar de forma verbal.
Assim, nem mesmo crianças com TEA não verbais serão iguais, pois existem variações que devem ser consideradas durante a intervenção.
Quais são os sintomas do autismo não-verbal?
Muitos estudos buscam responder a essa pergunta: o que acontece de diferente no desenvolvimento de crianças com TEA que permanecem não verbais ao longo da vida?
O que se sabe até agora é que o desenvolvimento de habilidades cognitivas não-verbais, como as motoras, por exemplo, — além do uso de gestos e da habilidade de imitação — são preditores para o desenvolvimento da linguagem de qualquer criança.
No entanto, em crianças com TEA não-verbal, essas habilidades parecem estar prejudicadas, o que significa que boa parte delas tendem a:
- falhar em imitar os outros;
- ter dificuldades na utilização de gestos com fins comunicativos e em outras áreas do desenvolvimento.
É importante lembrar que boa parte de qualquer aprendizado depende da imitação e, caso ela esteja alterada, o aprendizado também estará.
Além disso, a atenção compartilhada tem ganhado destaque quando pensamos naquilo que é necessário para aprender. Ela pode ser definida como a habilidade de responder a interações sociais, iniciar a interação com outras pessoas e coordenar essas duas habilidades.
Assim, a tendência é que essas crianças:
- geralmente preferem brincar sozinhas;
- têm muita dificuldade para compartilhar atenção;
- não se engajam em atividades que dependem de trocas e interação.
Em outras situações, essas crianças podem apresentar diagnósticos associados, como é o caso dos transtornos motores de fala. Reforçando mais uma vez que cada criança é única e todas as características podem ser variáveis.
Autistas não-verbais podem falar?
Para responder essa pergunta, é preciso conhecer os termos linguagem, comunicação e fala e o que significa cada um deles.
A linguagem pode ser entendida como um sistema complexo de símbolos utilizado em vários modelos de pensamento e comunicação, estruturada por meio de sons, palavras e frases organizados a partir das regras de uma língua.
Já a comunicação representa a forma como cada um de nós recebe e expressa uma mensagem, tendo papel social fundamental. Por fim, a fala representa uma das formas de expressão da linguagem. Ela acontece a partir de gestos e movimentos orais que resultam em sons e, ao serem combinados, formam palavras e frases.
Mesmo com toda a estimulação possível, muitas crianças não-verbais não desenvolvem a fala. Algumas podem passar a utilizar palavras simples para se comunicar, mas não conseguem formar uma comunicação plena por esse meio.
Porém, grande parte dessas crianças podem aprender outras formas de comunicação. Veja a seguir!
Quais técnicas podem ser usadas para incentivar as habilidades comunicativas em TEA?
Em primeiro lugar, é necessária a intervenção precoce. Quanto antes uma criança começar a ser estimulada, maiores serão as chances de que ela venha a desenvolver a linguagem e se comunique por meio da fala.
Contudo, mesmo nos casos onde a linguagem oral não é possível, é na intervenção precoce que a criança começa a desenvolver habilidades de imitação e atenção compartilhada, fundamentais para qualquer tipo de aprendizado.
No processo de intervenção, pode ser utilizada uma série de técnicas, com diversos objetivos, podendo ser:
- o desenvolvimento da linguagem oral ou a fala;
- ensinar a criança outras formas de comunicação (comunicação alternativa);
- a combinação desses dois objetivos.
A seguir, confira as técnicas mais utilizadas para incentivar as habilidades comunicativas em TEA.
Comunicação Alternativa Ampliada (CAA)
Antes de entender como funcionam essas técnicas e recursos, é preciso lembrar que a Comunicação Alternativa Ampliada representa uma alternativa à comunicação oral, como:
- uso de gestos;
- língua de sinais;
- expressões faciais;
- pranchas de alfabeto;
- símbolos pictográficos.
Ela pode ser muito útil para crianças com TEA, porque torna a comunicação mais concreta e visual. O uso desse tipo de técnica pode, inclusive, ajudar no desenvolvimento da linguagem oral.
Sistema de Comunicação por Troca de Figuras (PECS)
O Sistema de Comunicação por Troca de Figuras (PECS) é, atualmente, um dos sistemas de CAA mais conhecidos e utilizados.
Ele tem como objetivo ensinar a comunicação funcional a partir do uso de pictogramas e pranchas, nas quais a criança tem a possibilidade de selecionar aquilo que gostaria de dizer.
Essa técnica possibilita uma comunicação ampla, que vai desde o uso de palavras até a construção de narrativas. Vale lembrar que o PECS necessita de uma formação específica para sua aplicação.
Aplicativos para autismo não-verbal
Atualmente, muitos aplicativos (pagos ou gratuitos) que auxiliam no processo de comunicação estão disponíveis. Eles podem partir do princípio do uso de pictogramas ou figuras que, combinados, comunicarão uma mensagem, até o uso de palavras escritas — no caso de crianças alfabetizadas.
A grande vantagem dos aplicativos é que eles permitem que a criança tenha em mãos um vocabulário muito maior sem que isso ocupe um espaço físico, como acontece nas pranchas convencionais. Além disso, torna o processo mais rápido e dinâmico.
Outro diferencial desse tipo de sistema é a possibilidade da utilização de recursos de voz, que fazem a leitura das figuras ou palavras selecionadas pela criança, facilitando a comunicação com outras pessoas.
O que pode ser feito além das técnicas citadas
Além das técnicas citadas, a criança deve receber toda a estimulação necessária que a possibilite aprender a utilizar esses recursos. Assim como falamos da atenção e da imitação, outras habilidades precisam ser desenvolvidas para que a criança tenha intenção de se comunicar.
Uma dica: quando houver associação entre o TEA e algum dos tipos de transtornos motores de fala, é imprescindível que a criança seja exposta a uma intervenção especializada para ter condições de desenvolver habilidades de fala.
Qual o papel do fonoaudiólogo na intervenção do autismo não-verbal?
O fonoaudiólogo tem papel indispensável, desde a etapa de intervenção precoce, até a seleção das técnicas mais adequadas para o desenvolvimento da comunicação e seu treino com a criança.
Mas, para se ter sucesso, o profissional deve ser especializado e ter domínio teórico-prático das questões relacionadas ao TEA e as técnicas de intervenção.
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Referência:
BRIGNELL, Amanda et al. Communication interventions for autism spectrum disorder in minimally verbal children. Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 11, 2018.
